sábado, 2 de fevereiro de 2013

Que jogo é esse?


Derby Club, hipódromo que cedeu lugar a construção do Maracanã.
Pra frente Brasil foi hit futebolesco da Copa de 1970, nome de filme de 1982, e não obstante não ser mais objeto de gritos de torcida ou de debate em cineclubes perfaz ainda hoje, 40 anos após a ditadura militar, uma perversa ideologia nacionalista usada pelo estado para mascarar um grave quadro politico e social.


Muitas pessoas morreram e ainda morrem por conta da violência do estado brasileiro, que digam entre outros o menino Juan ou a engenheira Patrícia! A reiterada corrupção que acompanha os atuais governos são também, em seus efeitos, formas de violência contra o povo.

Indignação na escadaria da ALERJ.
Alheia à violência e corrupção que ocorrem por aí, a histeria crescente que cerca campeonatos de futebol no Brasil se assemelha mais à uma crônica Pasoliniana falando do humor alienado dos jovens brasileiros do que manifestação saudável de indivíduos que compreendem o que é a atual Democracia de Chumbo

Torcida de futebol no Brasil.
Antes da realização dos Jogos Pan Americanos de 2007 estimativas já apontavam que era mais econômico construir outro estádio do que reformar o velho Maracanã. O Pan talvez tenha sido vantajoso para a iniciativa privada que adquiriu direito de exploração dos equipamentos criados, porém o volume de recursos públicos (na casa de $1 bilhão) empregados na atual reforma e destruição do que foi feito no PAN é uma afronta ao suor da população que vive de trabalho e pena com impostos.

Mário Rodrigues Filho.
Mário Filho popularizou o futebol e mobilizou a sociedade de sua época a favor da construção do Maracanã, estádio que mais tarde ganharia seu nome. No entanto, o Criador das Multidões nas suas proféticas ações em favor do esporte não imaginaria que “aquela corrente pra frente” se traduziria, no Brasil contemporâneo, em beneficio à empreiteiras na infindável reforma do Maracanã e na natureza alienante com que o futebol é vivido pelo povo. Salve a seleção!


Publicado originalmente no Facebook, grupo Rio Antigo, em 14/01/2013.

Vitória.

Templo da vitória, 1870. Local onde hoje se encontra
a Central do Brasil e o Palácio Duque de Caxias, Rio de Janeiro.

A aliança brasileira com argentinos e uruguaios de fato saiu vitoriosa da chamada Guerra do Paraguai. Debates historiográficos à parte sobre as razões e interesses econômicos que engendraram o conflito, o fato é que internamente a vitória brasileira foi das elites.

Colégio Pedro II e a Igreja de São Joaquim.

Enquanto os filhos da corte e de empresários frequentavam o Colégio Pedro II e se embriagavam com o Champagne da Missão Francesa os chamados “Voluntários da Pátria” eram, além de pequeno efetivo militar, ninguém menos que indivíduos das camadas populares, negros, mestiços e escravos em sua maioria chamados a participar da guerra por uns trocados e promessas de terra no interior do país. 





A participação da população afro descendente na guerra foi inclusive motivo de propaganda racista promovida pelo governo paraguaio que chamava os militares brasileiros de “exército macacuno”; e a frase dita por Solano Lopez ao ser ferido na guerra teria sido: “matem a esos diablos de macacos!”

Colégio Militar do Rio de Janeiro.

O quadro da educação publica brasileira atual é assim concretização dos sonhos do império no século XIX. Alguns indivíduos prestam para a guerra e trabalho, outros, pela sua conta bancária e relações pessoais vão ocupar cargos políticos ou postos na administração publica.



O interesse parece ser manter a população alienada e na ignorância: o ensino fundamental nas escolas publicas é uma farsa, pois alunos chegam ao ensino médio sem saber ler ou escrever, enquanto servidores são perseguidos por denunciar o uso dos recursos da educação publica em proveito do próprio administrador; o ensino médio já não é mais integralmente obrigatório, pois o individuo que termina o primeiro ano e é aprovado no vestibular ou equivalente pode seguir diretamente para a universidade com o aval do MEC; e o ensino superior, como se vê nos jornais, lamentavelmente tem produzido médicos que matam; juízes que roubam; engenheiros que fazem prédios desabar, entre outras tantas bizarrices que os atuais programas de acesso às universidades não enxergam.

Templo de Atena Nice

Publicado originalmente no Facebook, grupo Rio Antigo, em 08/01/2013.

Tempos eternos.

Praca Pio X, 1954.

No início da era industrial quando as pessoas perceberam que a máquina tornara-se mais importante que os homens houve um movimento que lutou contra isso. Dizia uma canção ludista:

Brave ludits we are, for the breaking we come!
God save Ned Lud!
Machines to hell, we want our dignity!
Breaking is good, join us and save Europe!
Break! Break! Break or die working!
Monsters of industrialism, we want you broken!
Machines to the ground!
Crash! Crash! Bang! Bang! The sound of freedom these are!
Break one, break two, break three, break all! All!


Tempos modernos.

A era da informação suplantou à da indústria, porém a máquina ainda está em primeiro plano quando fala o poder econômico. Os grandes centros urbanos não comportam tantos carros na rua sem prejuízo da qualidade de vida e mesmo assim prevalecem as políticas que priorizam redução de IPI para compra de carros novos; ruas da cidade são ampliadas e calçadas reduzidas para favorecer a “máquina” em detrimento dos que fazem do caminhar seu meio de transporte; e alvarás para novos táxis são barganha política em véspera de eleições.


Fila no transporte, Rio de Janeiro.

O transporte publico é um caos, as pessoas andam espremidas nos coletivos, certos locais sequer possui oferta mínima de transporte e o chamado alternativo é caso de policia; a Agência reguladora é uma instância dolosamente política, e a ação dos advogados que defendem toda esta baderna é questionável porquanto existe parentesco com o administrador. As leis de trânsito também não favorecem, prestam mais para punir o trabalhador que com muito custo adquiriu um automóvel do que para reprimir farras automobilísticas de playboys, jogadores de futebol entre outros mauricinhos. 

Transito no Rio de Janeiro.


Sancionado sem vetos pela presidência da republica o projeto de lei que alterou o Código de Transito Brasileiro é exemplo de como pequena parcela da população do país transgride o principio constitucional da isonomia. Aumentar a multa de R$ 957,70 para R$ 1.915,40 só pune a fração menos privilegiada, pois o valor atual ainda é gorjeta para alguns e meses de salário para outros. Assim, verifica-se que quando não é a máquina são seus grandes donos os beneficiados, pois se o objetivo fosse humano as multas deveriam ser calculadas, por exemplo, com base no imposto de renda.

Publicado originalmente no Facebook, grupo Rio Antigo, em 08/01/2013.

Vida de gado.

Passeata dos 100 mil.
Versos, caminhadas e encontros podem mudar o mundo, mas também retardar mudanças. Nossa história demonstra que houve tempo onde pessoas reunidas eram consideradas perigosas. De certo não vivemos todas as mudanças e transformações do mundo ou da cultura, mas temo ao notar que meus novos velhos anos podem não ser socialmente significativos.

Réveillon em Copacabana.
O Rio sedia anualmente mega-eventos de diferentes natureza, o que é muito bom, mas onde foi parar aquele sentido crítico do encontro e das marchas? Na sociedade brasileira/carioca não existe desigualdade ou corrupção suficiente que justifique mobilização social? A gestão politica dos atuais governos é inspiradora de versos românticos ou de manifestações essencialmente cidadãs? 


Existe uma notória doutrina jurídica brasileira que assevera que “A natureza da administração pública é a de um múnus público para quem a exerce, isto é, a de um encargo de defesa, conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade. (...) , todo agente do poder assume para com a coletividade o compromisso de bem servi-la, porque outro não é o desejo do povo, como legitimo destinatário dos bens, serviços e interesses administrados pelo Estado.”


Área da segregação no show Gil /Wonder.
A beleza platônica do direito brasileiro contrasta com a rudeza da realidade, cotidianamente fragmentada por interesses privados. Os grandes eventos que ocorrem na cidade comprovam esta tese, pois é legítimo deduzir da doutrina citada que em eventos subsidiados pelo poder publico e realizados em espaço publico, VIP, pessoas muito importantes, é o próprio publico, “legítimo destinatário dos bens e serviços administrados pelo Estado”. No entanto, o que se verifica são áreas privilegiadas distribuídas entre políticos e personalidades. Que existem diferenças no mundo todos sabemos, mas o silêncio diante do loteamento do espaço publico para atender interesses pessoais do administrador destrói o sentido do “Encontro”, o espaço social significativo torna-se o da alienação publica.

Publicado originalmente no Facebook, grupo Rio Antigo, em 05/012013.

Como eram diferentes estes bairros.


Os espaços geográficos naturalmente se transformam por força do tempo, as cidades ainda em razão das forças humanas. No inicio da década de 90 durante as obras do chamado Rabicho da Tijuca do Metrô a parede da sala da minha casa rachou ao meio. Paciência. Ordem nos transportes, ossos do progresso!


Esplanada do Castelo, ao fundo a igreja de Santa Luzia.
A palavra planejamento é corriqueiramente pronunciada por toda sorte de politico para sugerir que seus projetos são legítimos. Para o azar da população e infortúnio do bem publico o que se verifica na história do publico/privado no Brasil não é isso.


Fábrica de Fumos e Rapé de Borel & Cia. – Início do Séc. XX.
Na década de 80 o Metrô do Rio ainda era administrado pelo estado e falava-se na expansão para Zona Sul/Barra pela Tijuca, seguindo a rua Conde de Bonfim e perfurando o Maciço sob as torres do Sumaré pela Rua Uruguai até o Jóckey. As qualidades deste projeto, que remetem à construção do antigo e descartado túnel Tijuca/Gávea, parecem superar o recorte corrente, pois: não causariam tantos transtornos e interdições pelas já movimentadas ruas da Zona Sul; propiciaria um trajeto mais curto para aquele destino mesmo para quem vem da linha 2; a oferta de transporte publico existente na Zona Sul, para todos os lados da cidade, supera muito o da Tijuca, especialmente para se chegar à Barra.


Em 1997, a despeito dos protestos dos Metroviários o Metro foi leiloado na Bolsa de Valores por um valor considerado na época o segundo maior "ágio" na história do país. Daí então o Metro não mais se expandiu pela Tijuca. 


Obras do Metrô na Praça Saens Peña.
Se na história das transformações do Rio tudo é efêmero, permanecem as especulações sobre quem está ganhando dinheiro com empreitadas megalomaníacas que se alteram constantemente e histórias de como eram diferentes estes bairros.


Publicado originalmente no Facebook, grupo Rio Antigo, em 03/012013.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Língua esmagada.

Veículos sob o viaduto.
O Viaduto que liga o túnel Rebouças à Linha Vermelha entre outras áreas da Zona Norte do Rio se chama Engenheiro Freyssinet em homenagem ao engenheiro e arquiteto francês considerado pai do "concreto protendido". Entretanto, errôneamente a referida obra é conhecida como Elevado Paulo de Frontin em razão da Avenida homônima sob o viaduto.
Vista aérea do desabamento.
A Missão Francesa trazida ao Brasil com a finalidade de educar o país consistia em um escrete de artistas e especialistas de diversas áreas, entre eles o engenheiro João Gustavo de Frontin. Seu filho, o brasileiro André Gustavo Paulo de Frontin foi engenheiro e político, recebeu do Papa Pio X o título de Conde de Frontin, e importante avenida no Tijuca ganhou seu nome. 

Em 1971, quando ainda estava em construção, uma parte do viaduto Engenheiro Freyssinet caiu esmagando pessoas e automóveis. O que a Missão Francesa talvez jamais imaginasse é que depois de tanto tempo se esmagaria também a língua, francesa ou portuguesa, pois insistentemente se referem ao Frontin como "FRONTEIN" (sic!). Rodin, o escultor, é sempre RODIN (sem "e" na pronuncia ou na grafia); assim como Gauguin, o pintor, também.
Publicado originalmente no Facebook, grupo Rio Antigo, em 29/12/2012.

Areia e sal.

Avenida Atlantica - 1910.
Em meados do século XIX Copacabana era indicada como local de repouso. A paz que outrora foi prescrição médica sucumbiu à sucessão de moradores ilustres, temas musicais, janela turística brasileira, e palco de mega eventos; a prostituição em si mesma, fruto das vicissitudes urbanas, talvez só ofenda à uma classe média patética e plena de culpa cristã.
Calçadão de Copacabana.
A história dos espaços públicos nos remete à Grécia antiga onde os indivíduos debatiam os destinos da cidade. O tempo seguiu e é natural que em uma cidade litorânea a praia substitua as praças como espaço de diálogo entre corpos distintos, porem homogenizados pela semi-nudez dos uniformes de banho.
Praia de Copacabana durante show de Roberto Carlos.
No entanto, raramente a Ágora de areia e sal tem sido palco de atuação cidadã, de manifestações efetivas em buscas de transformações sociais concretas. O abismo e a desigualdade percorrem o calçadão monocromático, mas os frequentadores preferem, ao contrário do que se espera de indivíduos críticos, apenas entoar um refrão burguês: "quando eu estou aqui eu vivo este momento lindo, de frente pra você e as mesmas emoções sentindo".
  Publicado originalmente no Facebook, grupo Rio Antigo, em 30/12/2012.